Cooperativas acabam sendo única opção de transporte público em regiões
mais afastadas, como para a área de Engenheiro Marsilac, no extremo Sul
de São Paulo. Papel no atendimento à população mais carente é
importante, mas alguns bairros necessitam de sistemas com capacidade
maior.
Bairros mais carentes têm cooperativas como única opção de transporte
Proporcionalmente, com menos veículos e linhas menores, cooperados acabam transportando mais passageiros
Proporcionalmente, com menos veículos e linhas menores, cooperados acabam transportando mais passageiros
ADAMO BAZANI – CBN
Do total de 1 bilhão 418 milhões 292 mil e 876 passageiros transportados de janeiro a junho deste ano no sistema municipal de ônibus de São Paulo, de acordo com os indicadores da SPTrans, 618 milhões 196 mil 664 foram atendidos pelo subsistema local, ou seja, pelas cooperativas de transporte coletivo.
Regulamentadas em 2003, na gestão da prefeita Marta Suplicy, quando o atual secretário de transportes, Jilmar Tatto, ocupava a mesma pasta na prefeitura, algumas cooperativas de São Paulo hoje têm frota e número de passageiros superior ao de muitas empresas de ônibus e ter um veículo em cooperativa significa muitas vezes operação exclusiva.
Em diversos bairros, especialmente os mais carentes, a única forma de transporte público é a oferecida pelas cooperativas.
Exemplo é a região de Engenheiro Marsilac, extremo sul da Capital Paulista, a mais pobre da cidade, de acordo com o censo do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, de 2010.
O presidente da FECOOTRANSP – Federação das Cooperativas de Transporte do Estado de São Paulo, Paulo Sirqueira, em nota, cita a linha que vai até o Terminal Varginha como um dos exemplos.
“Hoje temos, por exemplo, uma linha na região que leva os moradores para um importante terminal permitindo que se desloquem para outras regiões da cidade com agilidade e segurança. A linha 6L01-10 Marsilac – Terminal Varginha é um exemplo da nossa preocupação com a mobilidade urbana dos moradores de bairros de baixa renda da cidade. O passageiro sabe que pode confiar no nosso trabalho, pois é nítida a qualidade e continuidade do serviço. Hoje percebemos um movimento sadio na cultura das pessoas que estão deixando seus carros na garagem e utilizando o ônibus. Não é por acaso que as cooperativas são a força do transporte principalmente, nos bairros mais distantes do centro ” – disse o representante das cooperativas.
Já as empresas de ônibus transportaram no primeiro semestre 800 milhões e 96 mil 212 passageiros.
Na prática, elas atendem pouco mais da metade dos passageiros em São Paulo, quase havendo um equilíbrio na demanda.
Em relação à frota, as companhias de ônibus possuem 8 mil 736 veículos e as cooperativas têm 5 mil 991 ônibus, boa parte micros.
Proporcionalmente, entretanto, as cooperativas acabam atendendo mais passageiros com menos ônibus.
As empresas transportam 1,2 passageiro em relação a cada passageiro de cooperativa, mas para isso, precisam oferecer 1,45 ônibus para cada veículo das associações.
Além disso, boa parte das linhas das cooperativas é menor que a dos ônibus, o que explica o fato de os micros transportarem mais passageiros proporcionalmente, fazendo mais viagens, apesar de cada veículo ter capacidade menor.
No entanto, a remuneração por passageiro varia.
A importância dos transportes do trabalho das cooperativas não pode ser deixada de lado, atendendo a locais muitas vezes que não são de interesse das empresas. Mas, de acordo com especialistas, alguns bairros já possuem demandas que justifiquem uma oferta de veículos de mais capacidade e ligações com maior extensão. Além disso, a proporção entre a oferta de veículos e serviços e a quantidade de passageiros atendida também divide opiniões.
O seccionamento de linhas feito pela atual gestão de Fernando Haddad ao mesmo tempo que racionalizou o sistema e evitou sobreposições também foi na contramão desta necessidade.
Hoje, muitas linhas maiores foram reduzidas colocando quase forçosamente os passageiros em terminais locais ou estações de trem e metrô.
Este modelo acaba beneficiando as cooperativas.
As baldeações nunca agradaram os passageiros, mesmo em alguns casos, representando economia de tempo. Mas para que um seccionamento de linhas seja eficaz é necessário que o sistema flua bem e para isso, os espaços exclusivos para ônibus são essenciais.
Não adianta nada o passageiro fazer uma viagem rápida numa ponta de seu percurso sendo depois obrigado a esperar mais de 30 minutos o outro ônibus que está preso num congestionamento.
Adamo Bazani, jornalista da Rádio CBN, especializado em transportes
Fonte: Blog Ponto de Ônibus
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